GUIA DO MAU ORIENTADOR

Se você já fez um trabalho científico de exatas, humanas ou biológicas ou qualquer trabalho de graduação ou pós-graduação, então já deve conhecer

OS CINCO PIORES TIPOS DE ORIENTADORES

MEGALOMANÍACO

Nunca é o bastante. Se você conseguiu 200 citações, ele vai querer 400. Se você sabe ler em inglês e espanhol, ele vai querer que você aprenda russo e sueco para só para poder fazer algumas poucas citações que não terão importância nenhuma no seu trabalho. Não caia na conversa de que, uma vez pronto, seu projeto revolucionará a ciência para todo o sempre – lembre-se, essas criaturas costumam ter alucinações e não conseguem manter os pés na realidade – exceto quando precisam terminar um projeto deles mesmos... Você NUNCA terminará seu projeto no prazo com um tipo desses do seu lado. Melhor desistir – do projeto ou do orientador

SÁDICO

Ele quer dar a sua contribuição para aumentar a quantidade de sofrimento existente na humanidade e escolheu você como infeliz vítima. Espere por mil correções no seu texto – que não levarão a nada, pois no final ele ficará quase igual ao início... Além de reuniões inúteis nas quais ele falará coisas que nada ou quase nada terão a ver com o seu trabalho. E você terá de concordar com tudo, se não quiser receber um desaprovador movimento de sobrancelhas. É teoricamente possível ir até o final de um projeto com ele, mas você deve fingir estar sofrendo muito para que ele se sinta gratificado e queira colaborar. Pensando bem, você não vai precisar fingir.

PARASITA

Totalmente incapaz de orientar quem quer que seja, tudo o que ele pretende é enriquecer o próprio currículo, no qual passará a constar o seu nome como tendo sido “orientado” por ele. Pressionar um parasita é inútil, pois eles preferem morrer a orientar alguém. Como não nem o mais leve interesse real no seu trabalho, pelo menos não pretende roubá-lo – o que o distingue do Criminoso. Diferente dos outros tipos aqui citados, eles não são realmente maus, apenas inúteis – o que para você pode ser ainda pior, já que você pode pensar que está diante de um orientador normal (sim, eles existem... Eu acho) e quando perceber, já é tarde demais – seu trabalho já sofreu morte cerebral e nada pode trazê-lo de volta. E o Parasita? Ele pouco se importa, já que, ao contrário de seu homônimo biológico, não precisa buscar hospedeiros, são eles que o procuram. A taxa de mortalidade de teses e dissertações costuma ser muita alta para o (pseudo)orientado contaminado por um desses. A solução nesses casos é: Se perceber que foi contaminando, cesse imediatamente qualquer contato com agente mórbido, inclusive contatos virtuais – delete emails e se atender o telefone finja ser outra pessoa e diga que está fora do raio de contaminação, quero dizer, do país. Espere quarenta dias no mínimo antes de procurar outro orientador, só para garantir.

CRIMINOSO

A intenção desse meliante é se apossar de suas idéias e publicá-las no nome dele – você será no máximo um co-co(coco?)-autor.Ou talvez a intenção seja pedir verba fingindo que é para o projeto que você propôs e daí embolsar tudo ou usar só nos projetos dele...

Ou comprar um carro novo. Lembre-se que verbas para projetos têm o duplo destino de financiar projetos científicos e enricar doutores punguistas. Não tente entender como tudo isso funciona, já que esse tipo de tramóia exige talento nato. Fora a sua especialidade oficial, o Criminoso também tem doutorado em Ladrologia. É caso de chamar a polícia, convocar uma CPI e fugir da cidade, já que um tipo desses pode até ter capangas.

PSICOPATA

O Psicopata é um tipo especial de orientador maligno que além da falta de qualquer vestígio de compaixão de todo psicopata, possui uma obsessão assassina especial: o tesecídio e o dissertocídio. O objetivo dele é destruir o maior número possível de teses e dissertações – inclusive as dos próprios orientados. Ele não se importa se sua fama ou carreira são prejudicadas no processo – o prazer de destruir é maior que tudo É um monstro que se alimenta de cadáveres ainda quentes de tesedissertações. No início ele pode parecer bonzinho, já que a intenção dele é exercer sua influência maligna só no final, próximo à defesa da tese/dissertação, quando for tarde demais. Se você for reprovado na sua defesa, isso para ele será a glória máxima. O risco de acabar sendo despedaçado pelos próprios orientados como se fosse uma ovelha por bacantes (por favor, não tenha pena dele ao imaginar isso, já que ele merece – Evoé!) não é o suficiente para detê-lo. Lembre-se, quando fugir, leve TODAS as cópias do seu trabalho. Vale até formatar o disco rígido do seu algoz para garantir que não sobrou nenhuma cópia. Não deixe seu trabalho nas mãos desse maníaco, uma pessoa normal como você não pode imaginar as coisas terríveis que poderiam acontecer... Se fizer tudo certo, só restará a cópia que está na memória do Psicopata. Essa você não pode apagar. Só resta esperar que ele bata a cabeça e esqueça até que conheceu você. Seria o ideal. Mas o mais provável é que o tesedissertocida esqueça de você quando encontrar outra vítima com a qual brincar... Antes a projeto dela do que o seu.

UM ALERTA FINAL

Neste texto usei “ele” para se referir aos orientadores porque a palavra “orientador” é masculina em português, mas lembre-se que orientadores malignos podem ser de qualquer sexo – o que eles têm em comum é a maldade, incompetência e insanidade, puras ou combinadas em todas as proporções imagináveis. O que os torna particularmente nocivos é capacidade de utilizarem seus títulos de Doutor como uma espécie de camuflagem que dificulta os seres humanos comuns de perceberem que estão diante de uma espécie hostil à humanidade.

“UM ORIENTADOR É COMO UM TIGRE DOMESTICADO: CONFIE NELE, MAS NUNCA COLOQUE A CABEÇA EM SUA BOCA”.

Richi Nean