quarta-feira, 27 de junho de 2007

SÃO PAULO FASHION WEEK - OPERAÇÃO GIRAFA FAMINTA

Essa o povo precisa ficar sabendo. Foi em uma Fashion Week - não se tem certeza em qual, ou talvez em mais de uma - que (dizem por aí, não posso garantir nada) desconfiaram que coisas malignas estavam acontecendo: tênias transgênicas estavam sendo fabricadas em laboratório para manter as modelos em em estado de magritude mórbida incurável permanente. Eletrodos eram implantados nas candidatas a avestruz-cabide que disparavam choques violentíssimos cada vez que elas colocavam mais que água na boca (eram sensíveis demais - nada de beijar ou tocar flauta). Médicos recebiam recebiam imensas propinas para dizerem em palestras (e até publicarem em artigos científicos) que era normal uma mulher de 1,80m pesar 50kg. Foi aí que numa operação intitulada "Girafa Faminta" a polícia resolveu grampear os bastidores. O que vamos ler agora é a transcrição da conversa entre os estilistas Totoko e Junequito .

T - ... e aí, Ju, e a nova coleção?
J - Por favor, Toto, não fala essa palavra, "coleção", que eu não gosto. Me lembra gente que coleciona estátua de pingüim, imã de geladeira, calcinha de ficante, toda essa coisa horrorosa! É arte, criação, eu sou um Deus, Toto, saiu na imprensa e não gosto de contrariar repórter de bom gosto.
T- E qual é a proposta da... sua nova arte?
J - Proposta? Tenho cara de deputado ou de dono de ong ecológica?
T - Ju, não começa senão essa conversa não termina hoje, quis dizer quais são as idéias, os conceitos que inspiraram as suas criações.
J - Conceito, conceito é melhor... "O Fim do Feminino".
T - Mas não eram roupas femininas?
J - Femininas não. Para mulheres. Mulher não é feminina, feminino vem de "fêmea", é mulher-bicho, não mulher-gente.
T- Ju, agora você foi longe demais. Tudo bem achar que a mulher ter um toque masculino pode ser interessante, mas tem que conservar o feminino, senão como as mulheres vão saber que são mulheres?
J- Trabalhando, Toto. Mulher não tem que ser feminina pra ser mulher; tem que trabalhar feito louca, mais que o homem, e morrer de enfarte aos quarenta anos porque foi despedida e trocada por uma mais jovem e recém-formada. O escritório é o marido do futuro, To. Aliás, do presente.
T - Mas Ju, os homens já levam esse tipo de vida e não gostam. Por que as mulheres gostariam?
J - Toto, você tem que entender que a mulher é mais resistente que o homem - usa sapato um ou dois números menor e nem reclama, sobrevive indefinidamente sem comida (as modelos aqui estão de prova) e ainda por cima (quer dizer, por baixo) tem filhos, esse processo potencialmente fatal no qual as coitadas quase são rasgadas ao meio por impiedosos alien-descendentes. E no outro dia, quando até já fabricaram o caixão, acham as danadas vivas, parece até milagre, não sei como não canonizam todas.
Mas estou me desviando. O que eu queria dizer é que, se são tão resistentes assim, é porque a natureza quer que elas trabalhem mais que criança na Inglaterra da Revolução Industrial, de domingo a domingo, feito formigas, no formigueiro é quase tudo fêmea, e não tem férias nem décimo-terceiro (nem os outros doze - formiga não tem salário), ninguém pergunta por que está trabalhando, pensar é proibido. A mulher é a formiga dos mamíferos.
T- Mas, não existe só dinheiro nessa vida.
J - Quem falou em dinheiro? Mulher não tem que trabalhar por dinheiro, isso é pecado, dinheiro demais só pode ser corrupção, ladroagem, tem que trabalhar pela REALIZAÇÃO PROFISSIONAL. Sabe o que é isso? Um olhar de bondade do chefe, poder dizer com um orgulho quase impossível de disfarçar quando for convidada para alguma coisa "Não posso, trabalho muito..." e esperar pelos olhares de admiração, um cargo com nome importante (Gerente Auxiliar Administrativo de Supervisão Geral de Recursos Humanos de Logística) reunião do amigo secreto no fim do ano, isso é que é felicidade, dinheiro é pra pagar imposto de renda!
T- Agora você está ficando confuso, Ju. Olhe em volta: há modelos que são ricas. Você é contra essas também?
J - Claro que não. Acontece que algumas pessoas tem que ser ricas (no máximo 0,01 por cento, se não desequilibramos a natureza), para que produtos de luxo possam ser vendidos. Como ia ser para os fabricantes de carros, canetas e moda se não existissem ricos? O pecado de ser rico é perdoado desde que se compre muito, e sempre, para movimentar a economia. Rico que não compra besteira todo dia comete crime contra a humanidade, tinha que ser julgado em tribunal internacional!
T - Mas, essas mulheres que renunciaram à feminilidade, como vão atrair os homens?
J - Toto, deixa de ser medieval! Mulher moderna não tem que atrair homem, tem que atrair chefe! Pra isso, basta a sensualidade de um belo currículo, não precisa de feminilidade! E se ela quiser ser modelo, feminilidade não é vantagem, é obstáculo! O que nós, estilistas, queremos não é a femedade brutal das curvas espirais de peitos e bundas pré-históricos. Queremos a androginia anatômica de um esqueleto do Dia de Los Muertos Mexicano. Peito só atrapalha, não tem músculo, não serve pra mexer as coisas feito mão, não leva a gente pra lá e pra cá feito os pés, pra que isso? Leite a gente compra no supermercado, que coisa horrível beber leite que sai de gente, pode até fazer mal pros bebezinhos. As amazonas cortavam as mamas fora para não atrapalhar na hora de usarem o arco e flecha, e para não terem de amamentar. Quando os filhos nasciam, davam para adoção ou matavam. Eram as executivas daquela época. Elas é que eram mulheres!
T - Mas essa magreza demais, não acha perigoso para a saúde? E a anorexia?
J - Anorexia não é doença. É vontade de melhorar. Essas mulheres que morrem de anorexia são heroínas, são as Joanas-dark (dark mesmo, vejam as belas olheiras) do nosso século, só que melhores, já que mais importante que libertar a França é conquistar um índice de massa corpórea de catorze. Ou você preferia que elas estivessem vivas e gordas, com aquelas coisas redondas aparecendo em baixo e em cima?
T - E quando dá vontade de comer?
J - É só beber água. A água, mesmo a bem limpa, tem vestígios de bactérias, fungos, e outras coisas protéicas e nutritivas. E se continuarem com fome, a moderna biotecnologia tem uns novos métodos...
T - Como é que é?
J - ...eu não ia te contar. Mas como é meu amigo, acho justo saber. São umas cápsulas, a gente dá pra elas engolirem e elas não engordam nunca mais, só emagrecem.
T - E o que tem nas cápsulas? Um novo moderador de apetite que atrofia as regiões do cérebro responsáveis pela fome? Açaí e granola miniaturizados? Um nova droga que faz elas terem alucinações com restaurantes? Um ursinho inflável que preencha o estômago? Um explosivo plástico poderoso que explode em contato com comida?
J - Melhor, Toto, muito melhor. São uns bichinhos.
T - Que bichinhos?
J - Aqueles, compridos e fininhos, que ficam dentro da gente comendo o que a gente come.
T - VERMES! Você está dando vermes pra elas?!
J - Toto, detesto essa sua mania de escolher errado as palavras. Preferimos chamar de Auxiliares de Nutrição Orgânicos Reengenheirados Endocompatíveis Xenophagos - ANOREX.
T - Mas, isso não é perigoso?
J - Não. Quero dizer, um pouco. Há um certo risco. Bastante, na verdade. Falando em números, umas cinqüenta por cento morrem no primeiro mês.
T- VOCÊ FICOU LOUCO, JUNEQUITO?
J - Pará de gritar, Totoko, não entende? Antes de morrerem, elas fizeram os melhores desfiles de suas vidas! Morreram em nome da arte! E as que, um dia, conseguirem sobreviver, formarão uma nova raça. A simbiose do ANOREX com o corpo feminino pode originar uma nova espécie: A mulher-tênia - sem traseiro, sem peito, sem homens, sem precisar comer, os filhos nascerão de imensos cisticercos... PELA PRIMEIRA VEZ TEREMOS UMA HUMANIDADE FASHION!

As investigações prosseguiram e Junequito e muitos outros estilistas foram presos. Os criadores do ANOREX não foram encontrados. Modelos também foram levadas para depor, mas a maioria morreu de desnutrição a caminho da delegacia.

"A DESCOBERTA DE UM PRATO NOVO É MAIS IMPORTANTE PARA PARA A FELICIDADE DO GÊNERO HUMANO DO QUE A DESCOBERTA DE UMA ESTRELA".

Brillat-Savarin (Gastrônomo francês, 1775-1826)

SOBRE AS FRASES FINAIS

Gostaria de responder aqui à pergunta de um meninodolhista recém-convertido dizendo que todas as frases finais de cada post ou de cada dia - aquelas em caixa alta e entre aspas, vocês sabem - são de minha autoria salvo indicação contrária, como no caso da acima. Às vezes são paráfrases (inventei em cima da frase de alguém), caso em que a fonte será indicada. Às vezes, indicarei como sendo de outra pessoa uma frase minha, e deixarei uma dica ou contarei com o bom senso que é inato a todo meninodolhista para que vocês descubram que sou eu o autor da frase. Podem citá-las à vontade, mas sempre citem a fonte: Richi Nean, o criador e criatura do Meninodolho.

Richi Nean

Um comentário:

ella disse...

\o/
isso que é por trás dos bastidores ;~
sabia que tinha alguma coisa de muito suspeito nisto tudo de fashion
viva os mendigos e meninos de rua que não estão nem aí pra moda!
todo mundo usar sacos de açúcar agora [pra fazer juz à nós mulheres que devemos trabalhar feito formigas]
;@

 
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